segunda-feira, 19 de maio de 2014

A política entra em campo

O futebol já foi utilizado como instrumento político. E neste ano não será diferente.
Por Giovana Meneguim e Nathan Rodrigues

A Copa do Mundo de 1934 era, literalmente, um teste de vida ou morte para os jogadores da squadra azzura. Com a ascensão do fascismo, Benito Mussolini enxergou no futebol um ótimo meio para mostrar ao planeta a nova cara do país. Por isso, a conquista era imprescindível. Antes da final, contra a Tchecoslováquia, o Duce enviou aos seus atletas um bilhete com a frase “vitória ou morte”. A Itália venceu a partida por 2 a 1, garantindo seu primeiro título.


Anos mais tarde, a política entraria novamente em campo. E com a camisa canarinho. Em 1970, o Brasil montou um time dos sonhos para a Copa do México. E o regime militar “colaborou” na convocação deste selecionado. Com a benção do general Emilio Garrastazu Médici, Zagallo levou ao torneio o atacante Dario. Ciente das possibilidades de a equipe voltar da América do Norte com o tricampeonato, a ditadura ainda fez uso exagerado da modalidade como propaganda do governo, criando slogans como “Ninguém segura este país", "Brasil: ame-o ou deixe-o" e o tema musical “Pra frente, Brasil”.

Estes exemplos comprovam que o esporte, muitas vezes, cumpre mais que o papel de entretenimento. É uma poderosa arma política, engatilhada com a proximidade de mais uma edição do campeonato mundial e das eleições presidenciais. “A Copa do Mundo tornar-se-á o grande espaço de debate político nesse segundo semestre", aponta Luiz Antônio Vital Gabriel, professor de Ciências Políticas das Faculdades Integradas Rio Branco.


Ele acredita que o resultado deste pleito pode ser influenciado pelo desempenho da Seleção no campeonato, ao contrário do que prega Lula. Em recente entrevista, o ex-presidente afirmou que o brasileiro já tem maturidade política para não se deixar influenciar pelo êxito ou fracasso do time canarinho. "Se o Brasil ganhar, parece-me que o Governo sai fortalecido; se perder, a oposição sai fortalecida, porque fará junção da derrota no campeonato mundial de futebol com questões como inflação, desemprego, baixo nível de crescimento da economia brasileira nos últimos anos", completa o professor.

sábado, 17 de maio de 2014

Estrangeiros brasileiros

Depoimentos sobre a Copa do Mundo no Brasil de estrangeiros que moram aqui há mais de 50 anos

Por Danilo Alves, Jacqueline Altopiedi e Marcel Pereira


A Copa do Mundo do Brasil iniciará no dia 12 de junho e receberá diversas seleções e com elas virão os torcedores. Será um mês em que várias culturas, manias, etnias se reunirão apenas com um objetivo: torcer pelo seu país. E vem a dúvida: pra quem eles irão torcer? Para o Brasil ou para o seu país de origem? O que eles esperam da Copa no Brasil? Com base nessas perguntas entrevistamos dois estrangeiros que já moram no Brasil há muito tempo para saber a expectativa deles referente à Copa.  

O italiano José Cigarossa mora no Brasil há 50 anos e sobre sua visão da Copa do Mundo no Brasil ele diz: “É um evento que o brasileiro esperou muito para acontecer e está apreensivo para que chegue logo. Vai juntar a população, como em todos os anos de copa, mas esse ano vai ser diferente, o povo brasileiro ficará mais unido do que nunca.”

Os atrasos nas obras dos estádios preocupam até quem não tem nacionalidade brasileira. “Espero que as obras fiquem prontas a tempo,  apesar de não acreditar". No quesito organização, está otimista: "na minha opinião a polícia vai proteger os turistas e a organização da copa vai ser a suficiente para atender a todos”, completa.

Coliseu - Itália      Divulgação/blog italianaticos
Sobre a cultura de seu país, relata: “Os italianos ficam apreensivos e fervorosos, pois a Itália, assim como o Brasil, respira futebol e nesse momento, faltando poucos dias para a Copa, em todas as cantinas e praças o pessoal está reunido falando sobre a seleção." Cigarossa complementa "Vou torcer pelo Brasil. Já tenho mais tempo de Brasil do que de Itália, ensinei meus filhos e netos a torcerem pelo Brasil e não poderia ser diferente”.

Representando a Espanha, entrevistamos Jeanette Gallego que relata: “Quando anunciaram que a copa seria no Brasil, eu fiquei super feliz, pensava em ir ao estádio, ver pessoas de outros lugares do mundo. Depois que soube melhor como estava sendo feito, todos os gastos desnecessários, me chateou um pouco.”

Divulgação blog cultura espanhola
Torre de Collserola - Espanha  Divulgação/Cultura espanhola
A expectativa dela com a chegada dos estrangeiros é o respeito: “Eu espero que o povo brasileiro respeite todos os povos que virão até o nosso país, pois pelo menos na Espanha, todos tratam muito bem os estrangeiros que passam por lá, espero que possamos dar um exemplo a todos e que não ocorram assaltos e notícias que possam difamar mais o Brasil”. E completa falando um pouco sobre seu país de origem “A Espanha sempre foi fanática por futebol, falta apenas um título dessa importância para colocá-la em um lugar que todos os espanhóis queiram ver. As pessoas fazem como os brasileiros, juntam-se para discutir futebol. A minha torcida vai para o Brasil. Já estou há muito tempo aqui, vim pra cá com oito anos e cresci, tanto na escola como no meio dos amigos com todos torcendo pelo Brasil, não tive escolha e nos dias de hoje, me considero fã número um da seleção em tempos de Copa”.





sexta-feira, 16 de maio de 2014

Expectativas da área comercial para a Copa de 2014

Ponto de vista dos comerciantes em relação à chegada de estrangeiros ao país

Por Camila Santos e Nathalia Moraes Franco


Em menos de um mês o Brasil sediará um dos eventos mais esperados por todos: a Copa do Mundo de 2014. Porém, essa realização está dividida entre críticas, opiniões diversas e polêmicas. Grande parte da sociedade considera que o país está investindo exageradamente em obras nas cidades-sede, deixando de priorizar itens essenciais à população como: saúde pública, educação, transporte, entre outros problemas que são utilizados como argumentos pelos adeptos do movimento "Não vai ter Copa".

Por outro lado, existem os que acreditam que a Copa do Mundo de 2014 possa ser usada como estratégia para atrair os estrangeiros, aumentando a visibilidade internacional do Brasil no setor econômico. Segundo Sirane Bandeira, sócia e proprietária do restaurante Maçã Verde, situado na região de Pinheiros, o estabelecimento está preparado para receber turistas. "Estamos desenvolvendo cardápios na língua inglesa e efetuando treinamento dos funcionários para um atendimento de qualidade", diz.

Restaurante Maçã Verde (Crédito - Nathalia Moraes Franco)
Em contrapartida, nem todos os representantes da área do comércio compartilham dessa expectativa positiva no que diz respeito ao Mundial. De acordo com Ana Cecília Panizza, assessora de imprensa da Associação Comercial de São Paulo, o benefício de maior impacto será destinado ao turismo. "A hotelaria lucrará bastante, mas as vendas serão prejudicadas à medida que houver fechamento do comércio durante os jogos", afirma.

A metrópole paulistana recebe um número expressivo de estrangeiros que vêm à cidade para usufruir das opções que ela oferece, desde cultura a negócios. Essa realidade faz com que os turistas tornem-se clientes assíduos do comércio de São Paulo. Lorenz O'Her, estudante alemão que reside no Brasil há um ano, conta que já enfrentou algumas dificuldades durante os atendimentos. "No começo era complicado  pedir o que desejava, tanto pelo meu português escasso, como pelo bloqueio que os comerciantes apresentavam em compreender algum outro idioma. Diante dessa situação, apelava para a mímica", declara.


Cartão Vermelho para Adidas

Patrocinadora oficial causa indignação após lançamento de camisetas depreciativas.
Por Flávia K. Mendes e Gabriela Alencar

Faltando 28 dias para a Copa do Mundo, o Brasil está em polvorosa. Toda a atenção do planeta será voltada para nosso país e não podemos fazer feio. Diversas campanhas publicitárias e produtos foram feitos para promover o Brasil para os estrangeiros, mas uma em especial se destacou.

A Adidas, colocou diversas camisetas à venda em seu site americano, porém duas dessas camisetas possuíam estampas pejorativas, com duplo sentido e com conotação sexual que difamavam a imagem da mulher brasileira. 

    Coração também pode ser enxergado como nádegas.
           Foto: Adidas / Reprodução                
Estampa traz expressão que pode significar tanto:
"pegar garotas", como"querendo gols".
Foto: Adidas / Reprodução

O professor, Alexandre Fillietaz comentou o caso afirmando que a talvez Adidas tenha confundindo a sensualidade geralmente associada ao nosso Carnaval com a imagem da mulher como objeto sexual. "Talvez a campanha tenha sido inspirada em valores culturais brasileiros, mas mal interpretados. As pessoas tem que vir para o Brasil para assistir aos jogos, assistir à Copa e não para explorar o povo brasileiro".

A coordenadora do blog, Blogueiras Feministas, Bia Cardoso, também comentou o caso “Acredito que qualquer coisa que reforce a imagem estereotipada da brasileira para o exterior é prejudicial e só aumenta o machismo em relação às mulheres”.

É importante lembrar que dados divulgados pela ONG sueca ChildHood, especializada em proteção à infância, e entregues à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República em fevereiro, mostram o aumento de casos de exploração sexual de mulheres e crianças em locais de grandes eventos esportivos. Na Copa da África, em 2010, foi registrado um aumento de 63% de exploração infantil e de 83% contra mulheres, no período do evento.

“A mulher brasileira foi objetivada, difamada, como se o país fosse um verdadeiro festival de carne humana pronta para consumo”, declara a ilustradora Evelyn Queiróz, que faz desenhos de mulheres com corpo fora do padrão, ela também afirma que enxergou a campanha como uma falta de respeito em nível absurdo. 

A antropóloga Debora Diniz, que escreveu para o Estadão em março, comentou novamente o assunto “O recado que podemos dar é que não somos mercadoria a ser vendida. E que vamos pensar muito antes de voltar a comprar algo dessa marca”.
Governo Federal sugeriu alterações nas estampas lançadas pela
Adidas.
Foto: Reprodução
Em nota oficial, a Adidas afirmou que as camisetas eram de uma edição limitada e que estaria disponível para venda apenas nos Estados Unidos. E também que “os produtos não serão mais comercializados pela marca". 

Pós-Copa preocupa setor hoteleiro

A grande oferta de hotéis pode gerar uma crise em algumas cidades que irão sediar o evento
Por Fernanda Clas e Tamiris Mota


            O tema Copa do Mundo ultimamente não tem gerado muitas notícias positivas e vem sendo alvo de críticas e questionamentos quanto a sua realização em terras tupiniquins. No setor hoteleiro a história não é diferente: além de a maioria dos hotéis e hostels de São Paulo ter muitas reservas feitas e alguns, como a maior parte da região da av. Paulista, já estarem com sua capacidade esgotada, um recente estudo divulgado pela BSH Travel Research, divisão estatística da BSH International, empresa especializada em hospitality asset management, aponta que deverão ser investidos cerca de R$ 7,3 bilhões em novos hotéis no Brasil até junho de 2014. Nilson Heleno, recepcionista de um hotel da rua Augusta (que fica nas proximidades da Paulista), afirmou que foram feitas algumas reformas no hotel por conta do grande evento.
            Se os investimentos em novos hotéis impressionam pela pujança e crescimento em ritmo acelerado da hotelaria brasileira para os próximos anos, fica uma preocupação: de onde virão tantos turistas para garantir a taxa de hospedagem dos hotéis existentes e dos que estão sendo ampliados e, como ficará este setor depois do evento? De acordo com Glaucia Sangiovanni, gerente operacional da ABIH/SP (Associação Brasileira da Industria de Hotéis de São Paulo), a organização acredita que em São Paulo não haverá superoferta, porém em Belo Horizonte e Salvador está previsto um número maior de quartos do que a demanda.

Cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, que sempre recebem eventos internacionais (shows, feiras, palestras,congressos, entre outros), têm uma clientela constante, não sendo preocupante o crescimento de números de hotéis. Porém, cidades menores como Belo Horizonte correm o risco de entrarem numa crise da hotelaria,  pois o número de eventos que a cidade recebe é relativamente menor, além do número de turistas. Até as Olimpíadas haverá movimento, porém depois desses dois eventos de maior porte não haverá clientes para suprir a oferta de quartos de hotéis.
Avenida Paulista, que receberá a maior parte dos turistas durante a Copa do Mundo (foto: Reprodução minhascidades.blogspot.com)

sexta-feira, 2 de maio de 2014

A realidade nas redações


O relato da censura nas redações durante o regime militar 

Por Danilo Alves e Jacqueline Altopiedi

          A ditadura militar censurou músicas, escolas, poemas, reportagens, entre outras coisas. O povo brasileiro era controlado por órgãos do governo que tentavam mostrar a paz e a estabilidade social no país.
Entre os anos de 1968 e 1973 o Brasil foi uma das economias que mais cresceu no mundo. Com o grande desempenho econômico os militares garantiam a cumplicidade do povo brasileiro com o regime militar através da censura que era implantada principalmente nos meios de comunicação.
A professora Clara Correa, das Faculdades Integradas Rio Branco, conta o que vivenciou na época da Ditadura Militar. Na época ela ja trabalhava como jornalista e explica o que ocorria dentro das redações.
"Comecei a trabalhar, em 1973, em agências de notícias como a Associated Press (AP) e a United Press Internacional (United Press Internacional). Em seguida  fui contratada pela A Gazeta (da Fundação Cásper Líbero)  pela Folha da Tarde, do Grupo Folha. Certa vez, foi impresso uma reportagem minha sobre os ambientes das redações, onde eu apontava a carga excessiva de trabalho dos profissionais nas redações - três períodos diários, em três lugares diferentes, inclusive na FT. Por ordem do Sr. Frias sai da redação. Alguns colegas ,do Jornal da Tarde, foram me entrevistar e no dia seguinte a matéria deles foi substituída por uma receita de bolo. Este procedimento foi adotado pelo grupo Estado para todos os textos que eram censurados dentro da redação pelos censores ali instalados. Foi a forma que os jornais do grupo encontraram para informar os seus leitores da censura", relatou. 
Texto censurado pela ditadura.(Texto: Canto Primeiro)
 O ambiente nas redações era de muita pressão, pois havia pessoas ligadas ao governo que reprimiam e censuravam a todos, é o que afirma a professora: "O ambiente, muitas vezes era de medo real, pois muitos eram levados a interrogatórios e, nem sempre voltavam. A detenção era arbitrária,  e muitas vezes sem base legal. Em 1979, eu trabalhava na assessoria de imprensa da VASP, empresa do governo do Estado de São Paulo, mas "administrada" pelo então DAC Departamento  Aéreo, ligado ao Ministério da Aeronáutica. Dentro da empresa, havia um censor, que observava as nossas atividades. Os jornalistas eram denominados de "Melancias", ou seja, verdes por fora e vermelhos por dentro". 
Quando perguntada, se na sua opinião as grandes mídias apoiavam/ocultavam muitas coisas que os militares faziam. ela disse: “Havia sim, pois a Folha apoiava claramente o Movimento de 64,  enquanto O Estado não, mas este mesmo jornal, antes apoiou, por exemplo, "A marcha pela família com Deus e pela liberdade".
Na época da ditadura, houve várias prisões por protestos de músicos, poetas, escritores e vários desaparecimentos de pessoas que não eram a favor do regime.



Texto censurado pela ditadura.(Texto: Os Lusíadas) 








quinta-feira, 1 de maio de 2014

Revolução no Vestuário

Moda como alternativa de expressão no período da ditadura
Por Flávia K. Mendes e Gabriela Alencar      

Em 1964 a ditadura militar se instala no Brasil, trazendo um período de controle e repressão. Em meio a esse cenário, uma das formas que os jovens encontraram para protestar foi através da moda. 

Porém, como toda regra tem sua exceção, não foram todos os jovens que puderem usufruir dessas novas tendências, como relata a professora de história, Fermina Silva Lopes, 62, “As roupas dessa nova tendência eram para a elite, quem era de classe baixa, como eu na época, não tinha como seguir essa moda. Nós tentávamos seguir, mas era difícil”.

Apesar dessa revolução no vestuário brasileiro, ainda seguíamos os padrões internacionais, como conta a consultora de moda, Fernanda Damy Haybittle “O Rio de Janeiro ditava moda e tinha forte influência europeia, especialmente da França”.

Moda dos anos 60 (créditos do site: oitopassos.com)
Ela comenta que, as roupas eram o oposto da ditadura, elas eram “delicadas, ousadas e livres”. Como pode ser observada nos festivais de música da rede Record. “Depois dos escândalos de tortura e morte de perseguidos políticos, a estilista a fazer uma moda de protesto foi Zuzu Angel, que teve seu filho assassinado pelos militares”, destaca a consultora.


  
Moda dos anos 70 (créditos do site: luxoseluxos.com.br)

Sobre as influências que aquela década trouxe para os dias de hoje, Fernanda diz que “As décadas de 60 e 70 sempre são revisitadas a cada coleção. Para este inverno, os vestidos de costura reta e trapézio da década de 60 estão em alta. Da década de 70, o estilo hippie chic veio para ficar e hoje é explorado não só nas calças boca de sino, mas também em vestidos amplos de seda estampada, chapéus e couros naturais”.

Nas passarelas dos dias de hoje (crédito do blog: dreams-golden)

Oposições em Marcha

50 anos depois, o regime militar ainda divide as opiniões e ruas de São Paulo

Por Giovana Meneguim e Nathan Rodrigues


São Paulo presenciou, no início do mês, mais uma edição da
Marcha da Família. (Foto: Giovana Meneguim)
Em 22 de março, uma segunda edição da Marcha da Família com Deus pela Liberdade ganhou as ruas de São Paulo. A passeata reuniu 1,5 mil manifestantes, entre maçons, militares reformados ou aposentados e skinheads, que declaravam apoio a uma nova “intervenção militar constitucional” como forma de combater o “domínio comunista” no país.


Ironicamente, no mesmo dia, organizações esquerdistas se concentraram na praça da Sé para a Marcha Anti-golpista Ditadura Nunca Mais. Milhares de pessoas caminharam até o antigo prédio do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), que hoje abriga o Memorial da Resistência, repudiando os pedidos da outra passeata e pedindo punição para os responsáveis por torturas e assassinatos durante o período militar.

Em meio às comemorações dos 50 anos do golpe, as duas manifestações evidenciam que a sociedade brasileira ainda não chegou a um consenso sobre o tema. Para o estudante de Jornalismo Douglas Rodrigues, de 22 anos, uma nova intervenção militar seria a melhor solução para os problemas do país. “Com os militares no poder, o Brasil funciona. Eles vão tirar esses corruptos, prender bandidos. Colocar ordem no país”.

Já o militante antifascista Amauri Alvarenga, de 24 anos, rebate tal argumentação, afirmando que a corrupção e a criminalidade são problemas sociais provenientes do capitalismo e por isso não seriam extintos com a tomada do poder pelas forças armadas. “No exército existe corrupção. Ou você acha que as armas de uso militar restrito nas mãos de traficantes foram roubadas? Enquanto existir desigualdade, haverá criminalidade”, pontua.

No mesmo dia, manifestantes caminharam até o Museu da Resistência para repudiar os anseios da outra passeata. (Foto: Giovana Meneguim)

  A proximidade entre as duas marchas gerou tensão na cidade. A Polícia Militar, que acompanhou os dois eventos, preparou um esquema de segurança para que os grupos não se encontrassem, evitando possíveis conflitos físicos. Porém, o embate ideológico é inevitável. Golpe ou revolução, cabe à consciência de cada um. Cinquenta anos depois, ainda não se sabe se são comemoradas bodas de ouro ou de chumbo.

Música como instrumento opinativo

O papel da música nos dias atuais cumpre função política semelhante ao período da ditadura

Por Camila Santos e Nathalia Moraes Franco



Entre os fatos marcantes ocorridos no Brasil, a Ditadura Militar foi um dos que mais manchou a biografia do país. Com o golpe, houve forte repressão em diversos meios, inclusive na área cultural. A Música Popular Brasileira, uma das formas de expressão mais diretas, foi uma das vítimas principais da censura. Já que para o governo, certas músicas iam contra as leis e o regime imposto.

Apesar de todas as restrições, muitos artistas como Geraldo Vandré, Chico Buarque e Caetano Veloso, encontraram brechas para expor seu posicionamento em forma de versos e canções. Segundo Marcelo Freitas, professor de história formado pela Universidade de São Paulo, a repressão não impediu que os cantores se manifestassem. “Muitos músicos foram exilados. Mesmo assim, optaram por metáforas para mostrar suas ideias e contornar a censura, utilizando essa figura de linguagem em mensagens disfarçadas nas entrelinhas das letras”, afirma.

Rapper Lil Geeh (Crédito - João Pedro Durazzo)
Após 50 anos do Golpe Militar, a série de protestos ocorridos desde o ano passado, movidos pela juventude, traz de volta a consciência sobre os direitos dos cidadãos. O rapper paulista Lil Geeh considera que esses acontecimentos são uma nova revolução. “O movimento adquiriu grandes extensões e, no clímax reuniu milhões de pessoas reivindicando mudanças em diversos pontos, como educação, saúde, tarifas de transporte abusivas, PEC 37, Copa do Brasil, entre outros”, diz.

Refletindo a função da música como ferramenta política, atualmente é possível encontrar letras que retratam a insatisfação e o anseio por renovação. “A música posiciona-se como veículo público, onde há espaço para tipos diferentes de cultura. Através dela, cria-se a identidade, a voz de um grupo”, pontua Marcelo Freitas.

Para Lil Geeh, o rap possui um diferencial significativo na representação da realidade. “Com o rap fazemos vida, pintamos o preto e branco com lápis de cor, jogamos o amarelo da esperança no escadão, levamos a luz até o buraco mais escuro das cavernas mentais, que infelizmente existe dentro da cabeça de muita gente”, declara.