domingo, 1 de junho de 2014

A fonte da Música Popular Brasileira secou?

Em meio ao surgimento de gêneros como o Sertanejo Universitário e o Funk Ostentação, muitos se perguntam o que aconteceu com a criatividade e a qualidade de nossas músicas.
Por Giovana Meneguim e Nathan Rodrigues


Em meados da década de 1940, Luiz Gonzaga trouxe do Nordeste um ritmo acelerado e contagiante, fazendo o país dançar ao som do baião. Em 1958, João Gilberto inaugurou a Bossa Nova com a canção “Chega de Saudade”, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes. Uma década depois, jovens artistas adotaram instrumentos elétricos e concepções artísticas de vanguarda para apresentar a Tropicália. Em meio ao fenômeno grunge, bandas como Mundo Livre S/A e Nação Zumbi recolocaram a criatividade nordestina na praça ao dar vida ao Manguebeat.

O cantor e compositor Edvaldo Santana
(Foto: Reinaldo Meneguim)
O Brasil foi celeiro de ricas criações artísticas e berço de cantores que marcaram época por seu talento indiscutível e criatividade fora do comum. A música nacional já foi um produto fino do tipo exportação. Atualmente, no entanto, por mais que a mídia veicule uma gama de novos músicos, nada soa como novidade ou chama a atenção de ouvidos mais exigentes. A fonte secou ou não está mais disponível para o grande público?

Para o produtor musical José Nilton Tonin, a Música Popular Brasileira enfrenta um período de entressafra. “Vivemos um momento de transformação musical, em que novos gêneros são criados, mas muitas coisas serão passageiras. Passamos por uma crise, principalmente nos nossos conteúdos de letra, que influenciam todos os estilos musicais, e isso acaba sendo a principal arma utilizada pelo comércio. Então, a música acaba deixando de ser música e vira comércio”, afirma.

E quem responde por esse quadro? O cantor e compositor Edvaldo Santana acredita que, enquanto a música estiver sob domínio de grandes corporações, mais difícil será a promoção de novas ideias artísticas. “Elas continuam ditando as regras, comprando horários em emissoras de rádio, apresentações em programas de TV e publicações em jornais e revistas. O escoamento da produção musical continua muito difícil para quem não está ligado a alguma multinacional do entretenimento”, pontua.

O músico ainda ressalta que as novas tecnologias facilitam a divulgação dos materiais de artistas que, como ele, ganham a vida de forma independente. “A possibilidade de gravar e difundir sua obra ficou bem interessante, vieram à tona trabalhos com muita criatividade e que estavam escondidos. A internet é um oásis, pois democratizou o acesso de quem produz e de quem quer ouvir outro tipo de música que não sejam aquelas impostas pelo mercado.”


Em uma música plural e criativa, como é notoriamente reconhecida a MPB mundo afora, os talentos nunca desaparecerão. E caso eles não estejam diante de nossas vistas ou ao alcance de nossos ouvidos, não se preocupe. A beleza, às vezes, pode estar a um clique de distância ou em uma esquina qualquer.


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